Nem todas as plantas vivem só da luz solar e da fotossíntese, algumas delas são carnívoras e outras parasitas.
Do mesmo modo que muitas plantas estabelecem uma interação com animais ou com fungos, também existem algumas plantas que estabelecem uma estreita relação com outras plantas.
São as plantas parasitas ou holoparasitas (parasitas totais) que perderam por completo a função fotossintética. As folhas são desnecessárias e estão reduzidas a pequenas escamas amareladas ou desapareceram por completo.
A transpiração foliar é nula e também os órgãos de transporte de água, como o xilema, são muito reduzidos ou não existem, assim como as raízes.
As plantas parasitas desenvolveram órgãos de sucção especiais, que penetram nos feixes condutores da planta hospedeira, os haustórios, que utilizam diretamente do floema a matéria orgânica sintetizada pelo hospedeiro, não havendo por isso necessidade de realizar a função fotossintética.
Muitas espécies parasitas são subterrâneas ou vivem dentro dos tecidos de outra planta (hospedeiro) e só na altura da floração se tornam visíveis para o exterior, desenvolvendo algumas flores de cores lindíssimas.
Uma destas parasitas, talvez a mais conhecida é a Rafflesia das florestas tropicais húmidas do Bornéu e Sumatra. Produz a maior flor do mundo, cujo diâmetro chega a atingir 1m e, no entanto, todo o seu ciclo de vida se reduz a uma rede de filamentos escondidos no interior da planta hospedeira.
No clima mediterrânico também se encontram algumas parasitas deste tipo como o Cytinus hipocistis, uma parasita específica da família das Cistaceas, espécies muito abundantes por todo o mediterrâneo.
Cytinus hipocistis desenvolve todo o seu ciclo de vida no interior da raiz das suas hospedeiras e só na altura da floração, que é coincidente com a da planta hospedeira, a partir de fevereiro/março, sobressaem ao nível do solo pequenos botões florais avermelhados que abrem em cachos de pequenas flores amarelo alaranjadas.
Holoparasitas carnudas. Plantas pequenas amarelo-avermelhadas, caules muito curtos com folhas escamiformes densamente imbricadas.
Flores subsésseis reunidas num denso cacho com flores masculinas e femininas. Parasita sobre as raízes das Cistáceas em todo o País.
Foram muito utilizadas no passado em medicina popular como adstringente. Nome vulgar: pútegas ou coalhadas.
Outra das mais raras plantas do mediterrâneo, que cresce em zonas arenosas próximo do mar é o Cynomorium coccineum, que em Portugal só se encontra no Algarve.
Na ilha de Malta, onde foi muito abundante, é designado por fungo maltês embora não seja de fato um fungo, mas uma autêntica planta.
A maior parte da sua vida é subterrânea e retira os seus alimentos da raiz da tamargueira. Neste estágio do seu ciclo de vida reduz-se a um caule donde brotam numerosas ventosas que a ligam às raízes da planta hospedeira.
As folhas reduziram-se a um pequeno número de escamas minúsculas à superfície do caule. No verão irrompem do solo espigões grossos que se elevam alguns centímetros acima deste e que estão cobertos por uma grande quantidade de minúsculas flores vermelhas tão próximas umas das outras que parecem uma pele bastante rugosa.
Algumas são flores masculinas, outras femininas e outras ainda possuem um ovário e estames. Num espaço de semanas são fertilizadas por moscas, após o que secam, enquanto o espigão enegrece.
Holoparasitas carnudas, faliformes e avermelhadas com flores pouco perceptíveis, rentes e instaladas no cimo do caule. Nesta espécie o parasitismo adopta formas que tornam difícil acreditar que se trata de plantas superiores, pois parecem mais fungos, sendo por isso designadas antigamente na ilha de Malta, onde eram muito abundantes, de fungo maltês.
Como as suas flores eram vermelhas e enegreciam ao secar eram muito utilizadas nos problemas de saúde relacionados com o sangue, sendo utilizada para estancar feridas.
Além disso a sua forma fálica sugeria o seu emprego no tratamento de problemas sexuais. Estes talentos, associados à sua raridade, tornaram-na muito valiosa na ilha de Malta.
Em Portugal apresenta uma distribuição muito restrita aparecendo apenas no barlavento Algarvio (Portimão, zonas arenosas junto ao mar). Oriunda do Norte de África e do Sudoeste da Ásia.
As sementes das Orobanche spp, também holoparasita da Europa, só germinam quando em contato com as raízes do hospedeiro e sobressaem apenas do solo os seus caules florais de uma cor amarelada, castanha avermelhada ou violácea.
Estas podem ser muito perigosas pois compreendem numerosas espécies parasíticas das raízes do cânhamo, trevo, tomateiro, faveira, ervilheira, tomilho e muitas outras culturas.
Em Portugal as mais conhecidas são a erva-toira-ramosa (Orobanche ramosa), a Orobanche crenata das leguminosas e a Orobanche minor dos trevos.
Ervas vivazes, bienais ou anuais com uma distribuição de Norte a Sul do País. Parasitas de plantas superiores, a cuja raiz se prendem.
Caules robustos ou delgados. Folhas numerosas reduzidas a escamas. Flores hermafroditas reunidas em espigas ou cachos densos de corola bilabiada.
Existem várias espécies de Oronbanche, cuja identificação é difícil e nalguns casos só possível através do hospedeiro. Algumas espécies de Orobanche têm hospedeiros específicos e outras apresentam uma grande variedade de hospedeiros.
Muitas destas espécies estão a tornar-se cada vez mais raras, algumas no entanto, sobretudo as que parasitam plantas económicas, estão a ampliar a sua área de distribuição.
Parasitam várias famílias como as compostas, labiadas, leguminosas, solanáceas, umbelíferas etc. Nomes vulgares: erva-toira-ramosa, rabo-de-zorra, pútegas de raposa.
Da mesma família, embora parasitando as raízes das quenopodiaceas lenhosas das areias litorais ou dos sapais temos a Cistanche phelypaea, possuidora de grandes e densas espigas de flores amarelo vivo brilhante.
Parasita das raízes das Quenopodiáceas lenhosas das areias do litoral ou dos sapais a Sul do Tejo. Floresce no princípio da primavera, sobressaindo das copas das espécies hospedeiras grandes cachos de flores de um amarelo vivo brilhante. Planta proveniente do Norte de África e Arábia.
Nos sapais as parasitas apresentam, tal como a vegetação dominante, uma zonação de acordo com os níveis de salinidade.
Assim é vulgar encontrar as hemiparasitas (não são parasitas totais, ver abaixo) nas zonas altas do sapal enquanto as holoparasitas se encontram nas zonas mais baixas.
A Cuscuta spp é também uma holoparasita da família das convolvuláceas. Estas plantas já apresentam um desenvolvimento para o exterior maior que as espécies anteriores apresentando caules volúveis, que envolvem os caules das espécies hospedeiras e penetram nos feixes condutores destas.
Possuem folhas muito reduzidas escamiformes e as raízes muito diminutas morrem muito precocemente. Depois da germinação o caule da plântula desenvolve-se constituindo um filamento comprido e fino que descreve círculos amplos, o que permitirá a esta parasita encontrar neste raio de ação o caule de uma planta hospedeira que rodeia como uma planta volúvel.
Nos pontos de contato desenvolve umas excrescências papilosas epidérmicas que penetram no tecido destas e, se encontram condições propícias, desenvolvem haustórios que penetram nos feixes vasculares funcionando como autênticos chupadores de água, de substâncias inorgânicas e orgânicas do xilema e do floema da planta hospedeira.
Esta planta para além de "caçar" ativamente, investigando a vegetação rasteira com as suas gavinhas ainda escolhe a vítima com cuidado.
Parece capaz de "saber" se um determinado caule que toca é rico em nutrientes ou não. A gavinha se encontra um caule depauperado abandona-o e continua o seu movimento de busca até encontrar um melhor e mais carnudo.
Formam um emaranhado de caules finos tenros e volúveis, amarelos ou alaranjados, os quais envolvem as plantas que parasitam por meio de haustórios.
Nunca possuem clorofila e possuem flores pequenas e claras. Parasitam numerosas espécies herbáceas e algumas espécies lenhosas: a Cuscuta australis (enleios) parasita o lúpulo, a videira, o tomateiro e algumas plantas espontâneas, e a Cuscuta epithymum (cabelos) que parasita várias leguminosas, cistaceas e ericáceas existindo além destas mais espécies de Cuscuta na flora portuguesa.
Planta herbácea volúvel, holoparasita com haustórios. Nunca possuem clorofila e possuem flores pequenas e claras. Parasitam numerosas espécies herbáceas e algumas espécies lenhosas.
A cuscuta é muito abundante por todo o País e pode ser muito prejudicial para as culturas. Nomes vulgares: Linho de cuco e enleios.
Outras espécies, são tipicamente hemiparasitas, isto é, não são parasitas totais, desenvolvendo folhas verdes. Formam muitas vezes arbustos ou pequenas árvores, no entanto não investem na produção de sistemas radiculares formando haustórios tal como as holoparasitas que penetram nos feixes condutores das raízes ou troncos da espécie hospedeira, mas neste caso penetram apenas ao nível do xilema retirando água e nutrientes ao contrário das holoparasitas que utilizam também diretamente o fotossintetizado do floema.
Estas espécies terão que fabricar a sua própria matéria orgânica através da fotossíntese possuindo, portanto órgãos fotossintéticos, sendo por isso consideradas como semiparasitas.
Como hemiparasitas das raízes de outras plantas temos como exemplo na região mediterrânea espécies do género Pedicularis, que aparece em prados turfosos onde existem várias espécies do género.
Têm folhas finamente divididas e flores de corolas violáceas normalmente tubulosas e bilabiadas. Em Portugal existem duas espécies, P. palustris, nos lameiros dos arredores de Bragança e P. sylvatica bastante dispersa sobretudo em turfeiras ácidas, urzais e matos de solos turfoso.
Hemiparasita de caules herbáceos, glabros. Folhas com os segmentos dentados ou fendidos. Flores em cachos, róseas ou brancas. Lábio inferior da corola tão longo ou quase como o superior. Aparece por todo o País em regiões altas e nos sítios incultos.
Antigamente eram utilizadas em infusões, como remédio contra os parasitas dos animais domésticos.
Uma das hemiparasitas mais conhecidas da Europa é o visco-branco (Viscum album) que vive como um epífito no cimo de árvores, destacando-se muito bem no inverno porque apresenta folhas verdes todo o ano quando a árvore hospedeira perde as folhas.
O visco branco desenvolve-se como hemiparasita em várias árvores de folha caduca (pereiras, macieiras, cerejeiras, salgueiros, tílias, choupos, etc.) e, em certos casos em coníferas.
Espécie hemiparasita dioica, cresce nos ramos das árvores folhosas e das resinosas. Do seu caule surgem numerosos órgãos sugadores semelhantes a raízes compridas, os quais se desenvolvem no interior dos ramos das árvores.
Vive como um epífito no cimo de árvores e durante o verão fica completamente oculta pela folhagem do hospedeiro com a qual se confunde, mas durante o inverno destacam-se da árvore sem folhas umas estruturas circulares, com caules verde amarelados ramificados dicotomicamente e folhas opostas sésseis.
O fruto desta espécie é uma baga muito pegajosa que atinge a maturação pelo Natal e é um alimento muito apreciado pelos tordos e estorninhos.
As sementes ficam muito facilmente retidas no bico das aves que quando os esfregam no tronco das árvores na tentativa de os limpar, as sementes aderem a estes onde acabam por germinar.
Uma vez que a sementes não são digeridas são também facilmente disseminadas pelos excrementos destas aves. O "visco", substância pegajosa resultante da maceração desta planta, foi muito utilizada pelos passarinheiros para apanhar pequena aves.
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