Bioma Floresta
tropical
Área 102.012 km²
(área original: 1.315.460 km²)
País Brasil
A Mata Atlântica é um bioma de floresta tropical que abrange
a costa leste, sudeste e sul do Brasil, leste do Paraguai e a província de
Misiones, na Argentina.
Seus processos ecológicos evoluíram a partir do Eoceno,
quando os continentes eram relativamente dispostos como estão hoje. A região é
ocupada por seres humanos há mais de 10 000 anos.
A partir da colonização europeia, e principalmente, no
século XX, a Mata Atlântica passou por intenso desmatamento, restando menos de
10% da cobertura vegetal original.
É um grande centro de endemismo e suas formações vegetais
são extremamente heterogêneas, indo desde campos abertos em regiões montanhosas
até florestas chuvosas perenes nas terras baixas do litoral.
A fauna abriga diversas espécies endêmicas, e muitas são
carismáticas, como o mico-leão-dourado e a onça-pintada. O WWF dividiu a Mata
Atlântica em 15 ecorregiões, visando manter ações mais regionalizadas na
conservação, já que o grau de desmatamento e as ações conservacionistas são
específicas para cada região abrangida pelo bioma.
Atualmente, menos de 10% da cobertura original existe, a
maior parte em pequenos fragmentos de floresta secundária. No Brasil, restam
cerca de 7% (a maior parte na Serra do Mar), no Paraguai, cerca de 15% e na
Argentina, 45% da vegetação.
Na conservação da Mata Atlântica brasileira, a criação de
dois corredores ecológicos ligando os principais remanescentes de floresta no
sul da Bahia e norte do Espírito Santo (Corredor Central) e os fragmentos na
região da Serra do Mar e da Serra dos Órgãos (Corredor da Serra Mar) são de
suma importância na conservação da biodiversidade.
Os remanescentes do Paraguai e Argentina fazem parte de uma
estratégia trinacional de conservação, com a criação de corredores unindo as
principais unidades de conservação desses países e outras quatro unidades de
conservação do Brasil.
Na Argentina, restam cerca de 10 000 km², o que representa o
maior trecho contínuo de "Mata Atlântica do Interior". A Lei do
Corredor Verde é uma tentativa de resguardar legalmente esses trechos de
floresta na Argentina.
No Paraguai, o desmatamento se deu principalmente a partir
da década de 1990 e as unidades de conservação são poucas e na maior parte
particulares.
Apesar do alto grau de desmatamento, a região da Mata
Atlântica é a que mais possui unidades de conservação na América Latina, apesar
de muitas serem pequenas e insuficientes.
A história da Mata Atlântica tem seu início há 50 milhões de
anos, quando o continente sul-americano já era uma massa de terra isolada e
suas formas de vida passaram a evoluir localmente, sem transtornos geológicos
adicionais.
Ao longo desse tempo, no período Quaternário, a floresta
passou por períodos de fragmentações e expansões, em decorrências das inúmeras
eras Glaciais que ocorreram durante esse período.
Nos períodos em que o planeta se encontrava com temperaturas
mais baixas, os refúgios eram centros em que a biodiversidade florestal evoluía
de forma isolada.
Essa hipótese pode explicar a enorme diversidade desse
bioma, tal como seu alto grau de endemismo. É notável que exatamente o sul da
Bahia, norte do Espírito Santo e litoral de Pernambuco são centros de endemismo
na Mata Atlântica e os registros de pólen demonstram que tais regiões eram
refúgios no final do Pleistoceno.
Concomitante a relativa estabilidade no nordeste brasileiro,
havia uma instabilidade climática à sudeste, embora isso parece não ter evitado
endemismo de alguns táxons de anfíbios amplamente distribuídos.
Essa instabilidade climática no sudeste e sul do Brasil
tinha como consequência o surgimento de outras fitofisionomias que não eram
florestadas: estudos paleoclimáticos utilizando pólen demonstram que o sudeste
e sul passaram por inúmero momentos em que as florestas eram substituídas por
formações abertas, como pradarias.
Mais especificamente, a Mata de Araucária, chegou a ocorrer
até a latitudes em torno de 19º (muito ao norte do que ocorre atualmente)
durante as glaciações, sendo substituída pela floresta estacional semidecidual
há cerca de 10.000 anos, quando o clima voltou a ficar mais quente.
A primeira leva de colonizadores humanos na região da Mata
Atlântica ocorreu há aproximadamente 8 a 10 mil anos atrás, como evidenciado
por achados arqueológicos em Lagoa Santa, Minas Gerais.
Esses colonizadores já impactaram o ambiente com atividades
agricultoras itinerantes (atividades agrícolas em sistemas agroflorestais,
baseado em queimada e derrubada, principalmente do sub-bosque) após sua
chegada, principalmente em regiões em que as queimadas para o cultivo eram mais
frequentes, ocorrendo savanização.
Existe a hipótese de que os pampas surgiram decorrente das
intensas queimadas provocadas por povos indígenas, já que vestígios mostram que
a região era florestada há cerca de 5 mil anos.
É provável que toda a mata da baixada litorânea tivesse
sido, pelo menos uma vez, modificada para o cultivo pelos Tupis. É interessante
que uma das fitofisionomias mais conhecidas, a Mata de Araucária atual, pode
ter surgido decorrente do manejo feito por agricultores itinerantes da
Araucaria angustifólia.
Também, a agricultura itinerante é praticada até hoje por vários
grupos caiçaras e quilombolas do litoral do Rio de Janeiro e São Paulo.
Com a chegada dos portugueses, a partir de 1500, inicia-se
uma nova fase da exploração da Mata Atlântica. O pau-brasil foi o principal
alvo de extração e exportação dos exploradores que colonizaram a região, no
início da colonização pelos europeus.
O primeiro contrato comercial para a exploração do
pau-brasil foi feito em 1502, o que levou o Brasil a ser conhecido como
"Terra Brasilis", ligando o nome do país à exploração dessa madeira
avermelhada como brasa.
Nota-se que a colonização europeia e posterior dizimação dos
povos indígenas, acabou por interromper um processo de degradação da floresta
por meio da agricultura itinerante dos tupis, pois criou imensos espaços
vazios, o que contribuiu (embora não propositalmente) para a conservação da
floresta primária e recuperação de muitas áreas secundárias: a extração do
pau-brasil e os cultivos de cana-de-açúcar e trigo, embora extremamente
degradadores em âmbito local, não foram preponderantes para a destruição da vegetação
"globalmente", que permaneceu conservada em grande parte de sua
ocorrência até pelo menos, o século XIX.
Entretanto, não havia uma "consciência ecológica",
ou qualquer preocupação com o uso do solo, e cada vez mais, havia uma divisão
clara entre o que era civilização e "mundo natural", que passava,
inclusive, a ser desprezado pelos "brancos".
Ao contrário do que havia ocorrido em suas colônias na Ásia,
os portugueses não demonstravam grande interesse pela biota americana, com
exceção de alguns jesuítas: este fato foi mudar a partir do século XIX, com a
chegada do rei D. João VI ao Brasil em 1808, permitindo, inclusive, a entrada
de cientistas que não eram portugueses.
Mas, o incentivo da Coroa Portuguesa em se conhecer a Mata
Atlântica era mais por motivos econômicos, do que por "curiosidade":
o objetivo era conhecer a região para que fosse possível fazer a introdução de
espécies exóticas tropicais, vindas da África e Ásia.
A partir do século XVIII, há uma aceleração na devastação da
floresta no Sudeste, principalmente devido ao ciclo do ouro e a criação de
gado, inclusive, com a introdução de pastagens exóticas, o que deve ter
destruído pelo menos, 30 mil km² da Mata Atlântica nesse século.
Em Ouro Preto, por exemplo, a extração do ouro, além do
desmatamento, provocou erosão e surgimento de inúmeras voçorocas.
Paradoxalmente, a extração de madeira no fim do século XVIII
e início do século XIX para a construção de navios é que despertou um interesse
conservacionista das florestas: na capitania de São Paulo, foram criadas
reservas no litoral e toda uma legislação visando regulamentar a exploração do
que passou a ser chamado de "floresta virgem".
Rodrigo de Sousa Coutinho delineou planos de como explorar a
floresta de forma mais sustentável, embora isso causou furor nos madeireiros,
pois ia de encontro a todos interesses econômicos por trás de uma exploração
desenfreada da madeira pelas elites locais. Entretanto, tal
"conservacionismo" era para atender os interesses de aumentar o poder
bélico da Coroa.Vale da Serra do Mar retratado por Rugendas cerca de 1835.
Rodrigo de Sousa Coutinho visava uma exploração mais
racional da madeira da Mata Atlântica no fim do século XVIII.
Com a Independência do Brasil, pouca coisa mudou em relação
a um uso mais racional do solo: pelo contrário, as elites locais, agora livres
de uma intervenção de uma Coroa distante, se viram numa situação mais favorável
à total exploração e aumento das riquezas pessoais.
Surgem inúmeras propriedades de dimensões gigantescas, que
acabavam refletindo um uso totalmente irracional dos recursos: a terra era vista
como recurso descartável, sendo mais vantajoso exaurir uma determinada área
para depois ir para áreas de fronteira que estavam sendo desmatadas, do que
trabalhar a terra.
Esse modelo de produção refletia a mentalidade escravocrata
da época: a exploração da terra até a exaustão era tão válida quanto a
exploração de seres humanos como escravos.
Era também, uma versão ampliada da agricultura itinerante,
se baseando na queimada e derrubada e consequente mudança de local com a
exaustão dos recursos.
E mesmo após 1850, em que houve uma tentativa de se
regularizar as propriedades e por conseguinte seu uso, o desmatamento
prosseguiu: na realidade, a inabilidade e conivência na administração de terras
públicas que a Coroa possuía também eram presentes no Brasil Império,
resultando nos mesmos problemas anteriores de propriedade e exploração
desenfreada.
Foi com ciclo do café que começou a haver uma devastação
significativa da Mata Atlântica: até então, embora de forma exploratória, os
ciclos de cana-de-açúcar e do ouro, e extração de "curiosidades" da
floresta, não foram tão destrutivos para a floresta como um todo, visto que acabavam
ficando restritos, muitas vezes, a áreas de floresta secundária e campos
degradados.
Entretanto, somada à cultura de uso descartável do solo e
desperdício no cultivo em si, o café parecia exigir o plantio em solos de
floresta primária, o que acabou expandido o desmatamento para muitas áreas
florestadas do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo.
No estado de São Paulo, é notável uma correlação entre o
avanço dos cafezais e as derrubadas e queimadas: até 1886 foram derrubados
28.000 km² de florestas em função do plantio do café, a uma taxa de 720 km² por
ano.
Havia, também, uma mentalidade que refletia não apenas o uso
descartável do solo, mas também um desprezo pelo "mundo natural",
considerado, inclusive, fonte de muitos males. Apesar disso, alguns estadistas,
como José Bonifácio de Andrada e Silva, manifestavam preocupação com a
destruição das florestas.
Nesse século é que a tecnologia começa a ser preponderante
no avanço do desmatamento sobre as terras "desconhecidas" do interior.
A cultura do café e demais produtos agrícolas tinha sua expansão dificultada
pela impenetrabilidade do interior.
A chegada das ferrovias ao país permitiu a exploração de
novas áreas, antes inacessíveis. Começa um acelerado processo que terá seu
ápice no século seguinte.
Apesar disso, tem início também uma mudança de mentalidade
com o descaso no uso da terra e o desperdício dos recursos naturais.
Entretanto, tal mudança ainda é muito incipiente, já que o
"progresso", com a Proclamação da República, é visto como algo
totalmente contrário à manutenção das florestas naturais.
O século XX
Unidades de conservação do Pontal do Paranapanema no extremo
oeste do estado de São Paulo. Em amarelo, o Parque Estadual Morro do Diabo, a
única unidade de conservação da região que foi consolidada e efetivamente
preservada na região.
Foi no século XX que a Mata Atlântica passou pelas maiores
taxas de desmatamento. Grande parte foi desmatada em poucos anos. O Pontal do
Paranapanema é um bom exemplo de como o desmatamento na Mata Atlântica foi
brutal, principalmente na metade do século: na década de 1940 foram criados a
Grande Reserva do Pontal do Paranapanema, a Reserva Estadual do Morro do Diabo
e a Reserva Lagoa São Paulo, somando mais de 300 mil hectares, que em menos de
20 anos foram reduzidos aos cerca de 37 mil hectares do Parque Estadual do
Morro do Diabo e pequenos fragmentos nas proximidades.
De fato, o Pontal do Paranapanema foi o último "Sertão
Paulista", ainda apresentando grandes porções de floresta até o início da
década de 1960. Ademais, o estado de São Paulo, por conta do ciclo do café no
século XIX, conservava 59% da cobertura original até 1907, mas em menos de 70
anos, isso foi reduzido a menos de 9% (cerca de 20.699 km²).
Também, no Sul da Bahia, em 45 anos, uma cobertura vegetal
de quase 215 mil km² foi reduzida a pouco mais de 0,4% em 1990.
O estado do Paraná conservava cerca de 80% de suas florestas
no início do século, e graças à exploração da araucária (principalmente a
partir da Primeira Guerra Mundial) e expansão agrícola, até a década de 1960,
haviam sido desmatados 119.688 km² a uma taxa de 2400 km² por ano: no estado
restam, hoje, apenas o Parque Nacional do Iguaçu no extremo oeste e a cobertura
vegetal na Serra do Mar.
As causas para tamanho desmatamento são relacionadas à
crescente urbanização e industrialização do país, ao aumento da população em
si, (aumentando o consumo dos recursos florestais), tal como os interesses
políticos e econômicos na expansão de fronteiras agrícolas e de ferrovias.
Trata-se de uma "continuação" do que já ocorrera
nos séculos anteriores. O que há de diferente nesse momento, é o surgimento de
uma mentalidade propriamente conservacionista, principalmente por parte da
comunidade científica, embora, o "brasileiro médio" ignorasse tal
mudança e até mesmo visse com o mesmo desprezo de épocas passadas a floresta
tropical. Até a década de 1980, habitantes do entorno do Parque Estadual Morro
do Diabo, viam-no como uma "imensa área de floresta inútil".
Foi no início dos anos 1900, que Alberto Loefgren iniciou
campanhas conservacionistas das florestas do estado de São Paulo, com ideias
que embasaram o Código Florestal de 1934.
Com essa mudança, ainda que pequena, na mentalidade, foram
criadas inúmeras unidades de conservação do país, como o Parque Nacional do
Iguaçu.
Entretanto, os esquemas de grilagem de terras,
principalmente no oeste paulista, oeste e norte do Paraná e norte do Espírito
Santo, além de favorecerem o desmatamento em si, dificultaram a implementação
de unidades de conservação que poderiam conter o desmatamento nessas regiões
que ainda possuíam grandes extensões de florestas no início do século.
Tal forma de ocupação da terra, tinha também consequências
sociais graves: no Pontal do Paranapanema, além dos 5,3% de vegetação original
restantes atualmente, observa-se que 40% das terras compõe-se de terras
devolutas e griladas, passíveis de reforma agrária.
Depois da metade do século, um dos empreendimentos que mais
contribuíram para a destruição dos remanescentes de floresta, vinculado ao
pensamento de desenvolvimento econômico e a ditadura militar, foram as
construções de hidrelétricas, principalmente aquelas na bacia do rio Paraná.
Tais empreendimentos, além de aumentar o corte de árvores no
entorno, alagar matas e alterar o ecossistema pluvial em si, inundou unidades
de conservação já consolidadas, como o Parque Estadual Morro do Diabo (UHE de
Rosana) e a Reserva Estadual Lagoa São Paulo (UHE de Porto Primavera) e
ecossistemas riquíssimos, como as várzeas, levando, por exemplo, uma espécie de
mamífero, o cervo-do-pantanal, à beira da extinção na região da Mata Atlântica.
Fragmento de Mata Atlântica em Olinda, na zona da mata
pernambucana.
Foi também no século XX, que as áreas de Mata Atlântica fora
do território brasileiro foram rapidamente desmatadas: no Paraguai, entre 1945
e 1997, houve uma redução da cobertura vegetal em cerca de 75%, sendo que só
entre 1987 e 2001, foram desmatados 15.400 km² (uma perda de 35,2% do
remanescente de 1987).
A província de Misiones, na Argentina, foi em grande parte
conservada, devido a sua relativa inacessibilidade dentro da nação argentina,
embora houvesse planos do governo argentino, desde o século XIX, de se ocupar a
região com uma população de origem européia.
De fato, essa província argentina constitui-se um dos
maiores trechos de Mata Atlântica do Interior, conservando aproximadamente 50%
da cobertura original.
Após 500 anos de colonização europeia, a Mata Atlântica
passou por mudanças drásticas que a reduziram a menos de 10% de sua cobertura
original: seus remanescentes estão basicamente restritos à província de
Misiones, na Argentina, e às escarpas da Serra do Mar.
A história do desmatamento da Mata Atlântica reflete a
história da América Latina, especialmente do Brasil, e essa mesma história
dramática pode se repetir novamente, na outra grande floresta sul-americana: a
Floresta Amazônica.
As áreas de domínio (área cuja vegetação clímax era esta
formação vegetal) abrangia total ou parcialmente dezessete estados no Brasil,
abrangendo regiões no sudeste do Paraguai e a província de Misiones, na
Argentina.
A área original no Brasil era 1.315.460 km², 15% do
território; sendo que contando as coberturas vegetais da Argentina e Paraguai,
totaliza 1.713.535 km².
Atualmente o remanescente é 102.012 km², 7,91% da área
original.
Biodiversidade
A biodiversidade da Mata Atlântica é semelhante à
biodiversidade da Amazônia. Há subdivisões do bioma da Mata Atlântica em
diversos ecossistemas devido a variações de latitude e altitude. Há ainda
formações pioneiras, seja por condições climáticas, seja por recuperação, zonas
de campos de altitude e enclaves de tensão por contato. A interface com estas
áreas cria condições particulares de fauna e flora.
A fauna de vertebrados endêmica é formada principalmente por
anfíbios (grande variedade de anuros), mamíferos e aves das mais diversas
espécies.
Da flora, 55% das espécies arbóreas e 40% das não-arbóreas
são endêmicas ou seja só existem na Mata Atlântica. Das bromélias, 70% são
endêmicas dessa formação vegetal, palmeiras, 64%. Estima-se que 8 mil espécies
vegetais sejam endêmicas da Mata Atlântica.
Observa-se também que 39% dos mamíferos dessa floresta são
endêmicos, inclusive mais de 15% dos primatas, como o Mico-leão-dourado. Das
aves 160 espécies, e dos anfíbios 183, são endêmicas da Mata Atlântica.
Hidrografia
De acordo com o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, a
área de domínio da Mata Atlântica compreende oito bacias hidrográficas.
É também no domínio da Mata Atlântica, que se localiza um
dos maiores aquíferos do mundo: o Aquífero Guarani.
Vegetação
A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em
biodiversidade de plantas no Planeta, sendo constatada mais de 450 espécies no
Sul da Bahia, perto de Una.
Entretanto, tal diversidade e grau de endemismo varia, já
que ela não se constitui em uma formação vegetal homogênea, com variações na
riqueza de espécies devido a fatores como latitude, altitude, precipitação e
solo.
Alguns grupos de plantas como a tribo Olyreae (Poaceae), possuem
uma grande porcentagem de espécies no bioma da Mata Atlântica.
Tal variedade de fitofisionomias se explica pois, em toda
sua extensão, a Mata Atlântica é composta por uma série de ecossistemas cujos
processos ecológicos se interligam, acompanhando as características climáticas
das regiões onde ocorrem e tendo como elemento comum a exposição aos ventos
úmidos que sopram do oceano.
A distância a corpos d'água também tem fator preponderante,
tal como a probabilidade de a vegetação ser inundada em determinadas épocas do
ano ou permanentemente (como por exemplo, se observa em ecossistemas de
várzeas, outrora abundantes na bacia do rio Paraná).
O solo também tem papel importante, seja na disponibilidade
de nutrientes, seja na sua capacidade de reter água. Esses fatores
possibilitam, inclusive, a subdivisão e surgimento de ecossistemas típicos
dentro desses grandes grupos de fitofisionomias.
Floresta ombrófila densa
É a formação vegetal que ocorre no litoral, nas escarpas da
cordilheira atlântica ou em áreas próximas ao oceano, sob influência das massas
de ar úmida, o que confere alta pluviosidade durante o ano todo.
É a formação vegetal que possui maior grau de endemismo de
espécies vegetais, como evidenciado em estudos nos Sul da Bahia e norte do
Espírito Santo.
É interessante salientar, que no litoral de São Paulo, não
se constatou um elevado grau de riqueza nas espécies de plantas, apesar de se
constituir em um centro de endemismo: os autores sugerem que a importância
dessa floresta se relaciona mais ao número de espécies únicas e não a um número
elevado de espécies.
Nas regiões sudeste e sul, essa formação possui variação
decorrentes da altitude, constituindo formações de terras baixas (até 50m),
submontana (entre 50 e 500m), montana (500 e 1000m) e altamontana (entre 1000 e
1200m).
Na encosta (que faz parte das "terras baixas"), as
árvores tendem a ser mais robustas e altas, ao passo que com o aumento da
altitude, elas tendem a ficar mais delgadas e baixas, e isso também ocorre
quanto mais próximo do oceano.
As árvores da encosta, graças à abundância de matéria
orgânica, podem chegar a ter mais de 40m de altura. No nordeste, a formação
predominante é a de terras baixas.
Sendo considerada uma vegetação de transição com a Floresta
Amazônica, ela está basicamente restrita à região Nordeste. Pode ser incluída
nessa fitofisionomia, a Mata dos Cocais no Maranhão, ocorrendo também pontos
isolados das "florestas de babaçu" no Espírito Santo e Pernambuco.
É considerada em algumas localidades, como uma formação de
floresta secundária. Tal vegetação é encontrada nos brejos de altitude, no
Sertão Nordestino, em altitudes superiores a 600m, onde a precipitação é maior
que 850mm anuais.
O Planalto da Borborema é um dos ambientes mais
característicos desse tipo de vegetação, que possui espécies que ocorrem
amplamente pela América do Sul.
Os brejos de altitude constituem um tipo de floresta
ombrófila submontana.
Tendo sua maior parte de ocorrência no planalto meridional,
nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ela eventualmente
pode ocorrer no estado de São Paulo e nas escarpas da Serra do Mar e da Serra
da Mantiqueira.
As espécies que caracterizam essa formação pertencem,
principalmente, aos gêneros Araucária e Drymis (Australasiáticos)
Podocarpus(Afro-asiático), sugerindo uma ocupação recente, a partir dos
refúgios alto-montanos.
A Araucaria angustifolia apresenta um caráter dominante na
estrutura dessa formação vegetal, constituindo o dossel da floresta, com
inúmeros indivíduos emergentes, podendo representar até 40% das espécies
encontradas em determinada área.
Estudos feitos em Nova Prata, apontam que existe um padrão
de distribuição típico, em que as maiores populações de plantas formam
"agregados", o que acaba conferindo uma relativa homogeneidade da
floresta, comum em formações vegetais de Gimnospermas.
Devido ao alto grau de desmatamento que sofreu essa
fitofisionomia, é difícil encontrar áreas em que se apresentam grandes
aglomerações da Araucária, visto que elas são geralmente encontradas na
floresta madura ou em graus avançados de regeneração.
Floresta Estacional Semidecidual
É uma formação caracterizada por ocorrer em regiões em que
existe uma sazonalidade no regime de chuvas, o que acaba conferindo a perda de
20% a 50% das folhas na estação mais seca.
É a formação que ocorre em grande parte do interior do
Brasil, ocupando principalmente a bacia do rio Paraná, se estendendo até o
leste do Paraguai e a província argentina de Misiones.
Por ter uma área de ocorrência muito ampla, ela também fica
sujeita a inúmeras variações, principalmente com relação a altitude: no estado
de São Paulo, observou-se que as florestas que ocorrem em locais mais altos
tendem a ser mais homogêneas que as que ocorrem em locais mais baixos do oeste e
centro do estado.
Dados referentes a unidades de conservação dessa
fitofisionomia, mostram que apesar de seu alto grau de alteração pelo homem, no
interior do Brasil, ela ainda apresenta uma diversidade considerável de
árvores.
Floresta estacional decidual
Caracteriza-se pela perda de mais de 50% das folhas na
estação seca. Isso se evidencia pelo o aumento de serrapilheira nessa estação.
Essa fitofisionomia possui encraves no Rio Grande do Sul,
interior da Bahia, Minas Gerais, Goiás e Tocantins. Apesar do clima subtropical
úmido no Rio Grande do Sul, essa vegetação aparece, provavelmente por conta de
uma estação em que as temperaturas ficam muito baixas.
Essa floresta aparece em solos ricos em calcário. Em Goiás,
foi constada 36 espécies de árvores em um mesmo local.
Manguezais
Considerada como vegetação pioneira, visto ocorrerem em
solos instáveis do litoral, rejuvenescidos pela constante deposição de areias
marinhas e fluviais.
Devido à influência marinha, a salinidade tem grande efeito
nos manguezais, fazendo com que as espécies se adaptem a essa condição
ambiental restritiva, como no caso de Rhizophora mangle.
Manguezais também não são formações homogêneas, com suas
fisionomias variando ao longo da costa. O tipo de solo, precipitação e
insolação ao longo do ano podem definir tipos de manguezais específicos de cada
parte do litoral: Rhizophora mangle tende a ser mais abundante nos manguezais
de Pernambuco do que aqueles encontrados na baía de Paranaguá, no Paraná.
Sua grande produção biológica torna os manguezais
particularmente importantes do ponto de vista econômico para comunidades
caiçaras, visto serem ambientes em que muitas espécies de peixes e crustáceos
se reproduzem.
Restingas
Trata-se de um tipo de vegetação que recebe influência
direta das águas marinhas, e com gênero de plantas típicas das praias: a
influência direta das marés, a salinidade do solo, a estabilidade da areia e o
microclima definem as fisionomias vegetais que compõe a restinga.
É uma vegetação que se segue imediatamente à zona praiana,
estendendo-se pelo litoral de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo,
Alagoas, Sergipe e Bahia.
Em estudos realizados em Pernambuco, ela foi dividida em 2
tipos: a floresta de restinga, e os campos de restinga, ou restinga
propriamente dita.
As árvores das matas de restinga possuem copa larga e
irregular, não muito elevadas, e a restinga propriamente dita é formada por uma
vegetação arbustiva, de densidade variável.
A vegetação dos campos é muito pobre em espécies, com a
dominância ecológica de algumas delas altamente adaptadas: fato que se deve às
condições extremas de salinidade e instabilidade da areia.
A mata de restinga surge com a distância crescente do mar,
já que a severidade ambiental diminui, conferindo, por exemplo, maior proteção
ao solo e ao sub-bosque contra os ventos alíseos, e há uma maior deposição de
matéria orgânica e retenção de água no solo.
Campos de altitude
É uma vegetação típica de ambientes montano e alto-montano
encontrada principalmente nas regiões serranas do sudeste: ocorrem em cadeias
elevadas da Serra do Espinhaço, Serra da Mantiqueira e da Serra do Mar.
As variações de altitude definem tipos de campos de altitude
específicos: o montano corresponde às faixas de altitude entre 600 a 2.000m nas
latitudes entre 5º N e 16º S; de 500 a 1.500m nas latitudes entre 16º S e 24º
S; e de 400 a 1.000m nas latitudes acima de 24º S.
O altomontano ocorre nas altitudes acima dos limites máximos
considerados para o ambiente montano. Trata-se de uma fitofisionomia da Mata
Atlântica ainda muito pouco conhecida do ponto de vista da biodiversidade, mas
levantamentos florísticos em Minas Gerais mostraram uma alta diversidade de
plantas vasculares.
Tipo de solo, tal como a inclinação do relevo, determinam as
espécies predominantes, como mostrado em estudos fitossociológicos em campos
rupestres de Minas Gerais: Vellozia compacta é predominante em platôs
ferruginosos, ao passo que Echinolaena inflexa predomina em platôs sobre
quartzito.
De fato, a vegetação varia desde áreas abertas cobertas por
gramíneas, até áreas mais densas com vegetação arbustiva, possuindo ou não
afloramentos rochosos.
Fauna
Existe uma relativa precariedade referente à realização de
levantamentos de fauna da Mata Atlântica, o que torna sua descrição mais
difícil que a da vegetação, mas ela pode ser dividida em dois grandes grupos de
animais:
Generalistas: pouco exigentes, com altas taxas de reprodução
e grande variabilidade de dieta e hábitos alimentares, o que permite que
habitem trechos de mata secundária. Ex.: macaco-prego, sabiá-laranjeira.
Especialistas: dieta e hábitats muito restritos. São
sensíveis à perturbações no meio, e por isso tendem a ser encontradas em
trechos de floresta primária. Ex.:jacutinga, muriqui.
A história evolutiva da Mata Atlântica é marcada por
momentos de relativo isolamento e outros por contato com outras florestas
sul-americanas, como a Amazônia.
Como consequência, existem elementos "antigos",
que habitam a região desde 3 milhões de anos atrás, até outros que vieram de
outros biomas há cerca de 10 mil anos.
É evidenciado, com as quatro espécies de micos-leões(gênero
Leontopithecus), que dentro do próprio bioma houve diferenciação biológica: o
mico-leão-de-cara-dourada é típico das florestas do sul da Bahia e norte do
Espírito Santo, o mico-leão-dourado do Rio de Janeiro, o mico-leão-preto da
floresta semidecidual do interior do estado de São Paulo e o
mico-leão-de-cara-preta é da costa do Paraná.
O surgimento de espécies com esse padrão de distribuição
restrita derivam da formação de rios e mudanças paleoecológicas globais e
regionais causadas por movimentos de placas tectônicas.
Outros grupos, como o gênero Sapajus (o popular
macaco-prego), devem ter evoluído primeiramente na Mata Atlântica e depois ido
para outros biomas como o Cerrado e Floresta Amazônica.
Visto os fatores citados anteriormente, a fauna da Mata
Atlântica é extremamente diversa: no caso dos vertebrados, são 261 espécies
mamíferos, 1020 espécies de aves, 197 de répteis, 340 de anfíbios e 350 de
peixes que são conhecidos até hoje no bioma.
Ainda existe muito a ser descoberto referente a fauna, tanto
que, recentemente, foram catalogadas a rã-de-alcatráses e a rã-cachoeira, os
pássaros tapaculo-ferrerinho e bicudinho-do-brejo, os peixes Listrura boticario
e o Moenkhausia bonita, e até um novo primata, o mico-leão-de-cara-preta, e uma
nova espécie de porco-espinho em Pernambuco, o Coendou speratus, descoberto em
2013.
Visto a enorme diversidade de ambientes da Mata Atlântica e
de muitas vezes serem necessárias ações mais regionalizadas, o WWF dividiu o
bioma em 15 ecorregiões.
O desmatamento isolou muitos trechos de floresta em ilhas,
como é o caso da Reserva Biológica das Perobas.
Na região da Mata Atlântica é onde residem cerca de 70% da população
brasileira, o que é refletido no alto grau de desmatamento que sofreu o bioma.
Apesar de legalmente protegida, a perda e fragmentação dos
hábitats, caça e extração predatória de produtos florestais, tal como a
conversão de áreas de floresta em campos cultivados não diminuíram: entre 2002
e 2008, houve uma supressão de 2.742 km², sendo Minas Gerais, o estado que mais
desmatou.
Atualmente existem cerca de 10% da mata nativa. A maior
parte dos remanescentes de mata constituem-se de pequenos fragmentos (cerca de
83% com menos de 50ha), isolados entre si.
Existem apenas duas regiões onde os remanescentes são
contínuos, somando quase 10.000 km² de floresta cada uma: a Serra do Mar e de
Paranapiacaba, nos estados de São Paulo e Paraná, no Brasil; e a província
argentina de Misiones que é contínua com Parque Nacional do Iguaçu e o Parque
Estadual do Turvo, no Brasil.
Não obstante, o grau de conservação de ecorregiões desse
bioma varia, com ecorregiões que possuem até mais de 20 % da cobertura original
(como a ecorregião da Serra do Mar) até outras que conservam apenas 3 % da
cobertura original (como as Florestas do Interior, encontradas no interior de
São Paulo, oeste do Paraná e Minas Gerais).
Existem pelo menos 510 espécies em extinção, algumas em
âmbito global, outras em âmbito nacional, e outras estão ameaçadas apenas no
bioma: inúmeras espécies endêmicas como o pau-brasil e o mico-leão-preto acabam
se tornando ameaçadas em todos os níveis desde o regional até o global.
Extinções locais certamente ocorrerão nos próximos anos,
visto a enorme fragmentação em algumas regiões como observado nas Florestas
Costeiras de Pernambuco e na Floresta Atlântica do Alto Paraná: não
necessariamente pela conversão dos fragmentos em campos cultivados, mas pelo
isolamento deles e por atividades como caça, queimadas e extração de produtos
florestais.
Na conservação da fauna, o uso de "espécies
bandeira" tem sido útil tanto na preservação de algumas espécies em específico,
como o caso do mico-leão-dourado e do muriqui, quanto na conservação do bioma e
conscientização da população.
Esforços para preservar uma determinada espécie
"carismática" como a onça-pintada, acaba por culminar na preservação
de grandes áreas de floresta.
Imagem de satélite em que se observa o Corredor da Serra do
Mar (linha amarela). É o maior trecho de Mata Atlântica no Brasil.
Corredores ecológicos
As estratégias na conservação da biodiversidade e dos
processos ecológicos na Mata Atlântica consistem na criação de corredores
unindo os principais fragmentos, possibilitando o fluxo gênico e evitando o
isolamento das populações da fauna e flora.
Na Mata Atlântica brasileira foram identificadas duas áreas
estratégicas na criação de corredores: o Corredor da Serra do Mar e o Corredor
Central (unindo as florestas do sul da Bahia e norte do Espírito Santo).
Na Mata Atlântica argentina e paraguaia a estratégia é
trinacional (em conjunto com o Brasil), formando um corredor com unidades de conservação
da Argentina, Paraguai e Brasil (interior de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do
Sul) na ecorregião do Alto Paraná.
Corredor da Serra do Mar
Trata-se de um ecorregião com os maiores trechos contínuos
de Mata Atlântica, além de já possuir uma série de unidades de conservação bem
consolidadas, sendo portanto, o corredor mais fácil de ser implementado.
É uma região com enorme grau de endemismo, notadamente nos
remanescentes de florestas costeiras no Rio de Janeiro. Nos estados de São
Paulo e Rio de Janeiro localizam-se importantes unidades de conservação, que
possuem em média 350 km², como o Parque Nacional da Serra da Bocaina e o Parque
Nacional da Serra dos Órgãos.
A presença de enormes trechos de floresta neste corredor
deve-se ao relevo muito acidentado, que dificultou a ocupação e o uso da terra
para a agropecuária intensiva, entretanto, as terras baixas litorâneas,
principalmente regiões de manguezais e restingas sofrem com a crescente
urbanização e industrialização.
Não obstante, a caça e pesca predatórias são ameaças diretas
à conservação da fauna.
Corredor Central
A região do Corredor Central compreende cerca de 86.000
quilômetros quadrados desde o sul da Bahia e por todo o Espírito Santo.
É o maior centro de endemismo na Mata Atlântica, com grande
riqueza de espécies de plantas, como registrado em Una e na região central do
Espírito Santo.
São conhecidas 12 espécies de primatas, representando 60%
das espécies endêmicas da Mata Atlântica: o carismático
mico-leão-de-cara-dourada é endêmico das matas do sul da Bahia. Trata-se de
região com os principais trechos de "mata de tabuleiro" (uma variação
da floresta ombrófila densa), caracterizada por uma enorme quantidade de
lianas.
No sul da Bahia, especificamente, o cultivo do cacau no
sistema de cabruca foi menos danoso à preservação da biodiversidade, visto não
exigir desmatamento total da floresta.
Entretanto, foi uma das regiões que mais sofreu com o
desmatamento nos últimos anos, principalmente devido à crise do cacau e à
indústria de papel. Visto o alto grau de ameaça aos remanescentes e sua enorme
biodiversidade, são exigidas ações de preservação urgentes para o Corredor
Central.
Apesar de grande parte da vegetação nativa já ter sido
desmatada, existem 83 unidades de conservação, contemplando cerca de 270.000
hectares, sendo no sul do Bahia onde se encontra um importante mosaico de
unidades de conservação, totalizando 500 quilômetros quadrados de florestas:
Parque Nacional do Monte Pascoal, Parque Nacional do Descobrimento, Parque
Nacional do Pau-Brasil.
No Espírito Santo, a Reserva Biológica de Sooretama e a
Reserva Natural Vale, em Linhares, somam 440 quilômetros quadrados de
florestas.
Deve-se salientar que a falta de recursos para implementar
os planos de manejo, a insuficiência de pessoal técnico para administrar e
proteger as unidades de conservação e impedir a extração ilegal de madeira,
caça predatória e queimadas intencionais dificultam a implementação do corredor
e preservação dos remanescentes de floresta.
Lei da Mata Atlântica
A Lei da Mata Atlântica é uma norma da legislação brasileira
que estabeleceu regras sobre a proteção e utilização desse bioma. Ela permite
supressão de vegetação em alguns casos. Trata do regime jurídico, dos vários
estágios de conservação e evolução dos remanescentes, da abordagem em áreas urbanas
e regiões metropolitanas, dos incentivos econômicos e creditícios.
O primeiro caso deles é chamado de utilidade pública, que se
refere às atividades de segurança nacional e proteção sanitária, obras
essenciais de infraestrutura de interesse nacional destinadas aos serviços
públicos de transporte, saneamento e energia.
Quando necessária ao pequeno produtor rural e populações
tradicionais para o exercício de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou
silviculturais imprescindíveis à sua subsistência e de sua família, até o
limite máximo de 2 hectares, ressalvadas as áreas de preservação permanente.
Espécies arbóreas pioneiras nativas cuja presença, no
fragmento florestal, for superior a 60% em relação às demais espécies.
Estabelece ainda o Fundo de Restauração do Bioma Mata Atlântica, ao qual podem
ter acesso municípios que tenham elaborado os Planos Municipais de Conservação
e Recuperação da Mata Atlântica.
Planos Municipais de Conservação e Recuperação da Mata
Atlântica
Os Planos Municipais de Conservação e Recuperação da Mata
Atlântica foram criados para facilitar medidas de conservação e recuperação da
Mata Atlântica.
Devido à grande relevância da Mata Atlântica com a sua
importância dentro do cenário da manutenção do ecossistema, e diante de um
cenário de degradação e fragmentação cada vez maior deste Bioma, o PMMA é uma
ferramenta de trabalho dos órgãos municipais.
Dessa forma os municípios atuam como os principais atores
para a conservação e recuperação da vegetação nativa e da biodiversidade, com
base em um mapeamento dos seus remanescentes, como foi instituído, no Artigo 38
da lei 11.428, - Lei da Mata Atlântica - de dezembro de 2006.
A Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), estabelece
autonomia para os municípios atuarem na proteção dos recursos naturais,
trazendo uma nova tendência de descentralização para este tema, possibilitando
a cada município, estudar o seu cenário e a sua ocupação dentro da Mata
Atlântica, e elaborar seu plano de ação de acordo com a sua realidade e
possibilidade real de preservação, conservação e restauração.
A província de Misiones é a única na Argentina que possui
parte de seu território no domínio da Mata Atlântica. É também a que possui os
maiores trechos contínuos, com cerca de 10.000 km², possibilitando a
conservação de extensas áreas de floresta.
Os remanescentes de floresta em Misiones constituem um
importante corredor ecológico das Florestas do Alto Paraná, possuindo inúmeras
unidades de conservação bem consolidadas, como o Parque Nacional Iguazú, o
Parque Provincial Urugua-í e o Parque Provincial Puerto Península.
Entretanto, isso representa cerca de 57,5% da cobertura
vegetal original. Do ponto de vista da biodiversidade, das 850 espécies de
vertebrados conhecidos em Misiones, cerca de 20% correm risco de extinção em
âmbito nacional, com algumas espécies provavelmente extintas em âmbito global,
como a arara-azul-pequena, que também habitava áreas do sul do Brasil e leste
do Paraguai.
As unidades de conservação representam quase metade da área
dos remanescentes de floresta, uma área 4.597,66 km² em cerca de 60 áreas
protegidas.
Porém, as diferentes regiões biogeográficas estão
desigualmente protegidas, com a maior parte localizadas em áreas de Florestas
Montana.
Outros problemas mostrando que o sistema ainda não é ideal,
vão desde falta de infraestrutura, até a escolha das áreas, que muitas vezes se
dá por critérios "não científicos".
Visto o desmatamento ainda ocorrer em altas taxas, as
unidades de conservação estão se tornando isoladas, o que é um grave problema
na conservação da biodiversidade: espécies que exigem grandes áreas, como a
onça-pintada e a anta são diretamente impactadas por esse isolamento.
Na esfera jurídica, a Lei do Corredor Verde institui a
criação de um corredor ligando as principais unidades de conservação, de norte
a sul da província.
Deve-se salientar, porém, que um dos maiores problemas na
implementação desse corredor e de outras áreas protegidas é que o trabalho nem
sempre é feito em conjunto com as populações locais, o que acaba causando um
impasse entre os interesses dos habitantes e dos conservacionistas.
Ainda prevalece uma cultura "importada" dos países
vizinhos (Brasil e Paraguai) de que as florestas são áreas virgens
desperdiçadas.
Por fim, os remanescentes de floresta da Argentina também
possuem grande importância em uma ação de conservação trinacional, que une
interesses conservacionistas das Florestas do Alto Paraná no Brasil, Argentina
e Paraguai, já que possui os maiores trechos contínuos de floresta nessa
ecorregião.
Existe a iniciativa de implementação de unir as unidades de
conservação de Mata Atlântica do Interior desses três países através de um
corredor reflorestado pela bacia do rio Paraná.
Conservação da Mata Atlântica paraguaia
O domínio da Mata Atlântica cobria todo o leste do Paraguai,
totalizando cerca de 156.028 km². Atualmente, restam cerca de 15% da vegetação
original (pouco mais de 11.000 km²), distribuídos em fragmentos relativamente
isolados nos complexos da bacia do rio Paraguai e Paraná.
Por muito tempo, as florestas do Paraguai permaneceram
isoladas e preservadas, com um aumento no desmatamento a partir da década de
1980, resultando em uma perda de 15.400 km² somente na década de 1990: tal
desmatamento acabou por isolar as unidades de conservação implantadas como
forma de compensação pela construção de Itaipu, como a Reserva Biológica Itabó.
Até hoje, a biodiversidade da região é pouco conhecida,
tendo o conhecimento muitas vezes baseados em relatos superficiais e amplos de
padres e pesquisadores estrangeiros isolados. Sabe-se que em relação à fauna
aquática, existe notável semelhança com a Floresta Amazônica.
As dificuldades socioeconômicas do Paraguai dificultam as
ações conservacionistas, visto que a manutenção de florestas passa a ser visto
como um empecilho ao desenvolvimento da região: isto é causa de extrema pressão
não só em áreas de floresta particulares, como aquelas que são oficialmente
protegidas.
Tal dificuldade na conservação das florestas também se
reflete na dificuldade na implementação de uma reforma agrária e na solução do
uso ilegal de terras devolutas.
Apesar das dificuldades de implementação de unidades de
conservação da Mata Atlântica paraguaia, existe um bom exemplo de como ações
conservacionistas podem dar certo no país: a Reserva Natural Bosque Mbaracayú,
que junto com outros fragmentos próximos, constitui a única Reserva da Biosfera
paraguaia.
Essa reserva é uma unidade de conservação particular, que
consiste no único grande fragmento (possui cerca de 640 km²) de floresta no
país que é efetivamente protegido.
Ademais, as reservas particulares têm se mostrado uma
eficiente estratégia na conservação das Florestas do Alto Paraná no Paraguai,
visto que as áreas públicas passam por sérios problemas, resultado de uma
política ineficiente do Estado em reger tais áreas.
Unidades de conservação
No domínio da Mata Atlântica existem 131 unidades de
conservação federais, 443 estaduais, 14 municipais e 124 privadas, distribuídas
por dezesseis estados, com exceção de Goiás.
O domínio da Mata Atlântica é provavelmente a região com o
maior número de unidades de conservação na América Latina, entretanto, esses
números grandiosos não são suficientes, visto que o sistema está longe de ser
adequado: ainda assim, as áreas protegidas cobrem menos de 2% do bioma, as
áreas de proteção integral representam apenas 24% dessas unidades e muitas
vezes consistem de fragmentos pequenos e isolados, e metade das espécies de
vertebrados ameaçadas não se encontram em qualquer área protegida.
Outros problemas relacionados são a falta de infraestrutura
para se manter as unidades de conservação e uma série de impasses com
lideranças indígenas e comunidades tradicionais, como observado no Parque
Estadual da Ilha do Cardoso, Parque Nacional de Superagüi e no Parque Nacional
do Monte Pascoal.
Dentre todas as categorias de unidades de conservação
brasileiras, as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) têm sido as
mais importantes para o estabelecimento de novas áreas protegidas, dado que a
maior parte dos remanescentes de floresta ainda estão em propriedades
particulares.
Principalmente na região nordeste, as RPPNs protegem
importantes fragmentos com espécies endêmicas e muito ameaçadas de extinção,
principalmente de aves.
Outra estratégia para criação de novas unidades é a
compensação fiscal dada a municípios e estados que possuem áreas protegidas
declaradas oficialmente (ICMS Ecológico).
Apenas cerca de 7% estão bem conservados em fragmentos acima
de 100 hectares. Mesmo reduzida e muito fragmentada, estima-se que na Mata
Atlântica existam cerca de 20.000 espécies vegetais (cerca de 35% das espécies
existentes no Brasil), incluindo diversas espécies endêmicas e ameaçadas de
extinção.
Essa riqueza é maior que a de alguns continentes (17.000
espécies na América do Norte e 12.500 na Europa) e por isso a região da Mata
Atlântica é altamente prioritária para a conservação da biodiversidade mundial.
Em relação à fauna, os levantamentos já realizados indicam
que a Mata Atlântica abriga 849 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200
espécies de répteis, 270 de mamíferos e cerca de 350 espécies de peixes.
Além de ser uma das regiões mais ricas do mundo em
biodiversidade, tem importância vital para aproximadamente 120 milhões de
brasileiros que vivem em seu domínio, onde são gerados aproximadamente 70% do
PIB brasileiro, prestando importantíssimos serviços ambientais.
Regula o fluxo dos mananciais hídricos, assegura a
fertilidade do solo, suas paisagens oferecem belezas cênicas, controla o
equilíbrio climático e protege escarpas e encostas das serras, além de
preservar um patrimônio histórico e cultural imenso.
Neste contexto, as áreas protegidas, como as Unidades de
Conservação e as Terras Indígenas, são fundamentais para a manutenção de
amostras representativas e viáveis da diversidade biológica e cultural da Mata
Atlântica.
A cobertura de áreas protegidas na Mata Atlântica avançou
expressivamente ao longo dos últimos anos, com a contribuição dos governos
federais, estaduais e mais recentemente dos governos municipais e iniciativa
privada. No entanto, a maior parte dos remanescentes de vegetação nativa ainda
permanece sem proteção.
Assim, além do investimento na ampliação e consolidação da
rede de áreas protegidas, as estratégias para a conservação da biodiversidade
visam contemplar também formas inovadoras de incentivos para a conservação e
uso sustentável da biodiversidade, tais como a promoção da recuperação de áreas
degradadas e do uso sustentável da vegetação nativa, bem como o incentivo ao
pagamento pelos serviços ambientais prestados pela Mata Atlântica.
Cabe enfatizar que um importante instrumento para a
conservação e recuperação ambiental na Mata Atlântica, foi a aprovação da Lei
11.428, de 2006 e o Decreto 6.660/2008, que regulamentou a referida lei.
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