Porque arde, a
pimenta criou em bela confusão. Culpa de Cristóvão Colombo. Até o descobrimento das Américas, o nome em espanhol pimiento designava
a pimenta do reino, fruto seco moído da trepadeira Piper nigrum. Quando Colombo conheceu a fruta vermelha da planta Capsicum annum, que
os indígenas na América Central cultivavam havia milhares de anos, resolveu
dar-lhe, por ser ardida, justamente o mesmo nome genérico de pimiento.
Essa é a fruta que
conhecemos hoje como pimenta, que tem dezenas de variedades ardidas (malagueta,
comari, dedo-de-moça, murupi, scotch bonnet, etc), ou pimentão (que, aliás, é a
única Capsicum que não produz capsaicina, o componente natural que dá a
sensação de ardor no contato com as membranas mucosas).
E por isso temos
hoje duas 'pimentas' distintas (a do reino e a Capsicum) entre os três ou
quatro condimentos mais usados no mundo. Mas curioso mesmo é
observar a trajetória pós-Colombo da pimenta Capsicum.
Das Américas (onde
era cultivada do México ao norte da América do Sul) ela foi trazida para a
Espanha, onde descobriram (nos monastérios, aparentemente) o seu potencial na
culinária como excelente substituto para a pimenta-do-reino, então uma
especiaria cara e importada.
Os navegadores
espanhóis e portugueses levaram a Capsicum para a Ásia, por onde se espalhou e
se transformou em um ingrediente popular e querido, do Paquistão às Filipinas.
As cozinhas
tailandesa e indiana, por exemplo, seriam outra coisa não fosse essa pimenta –
chamada em inglês de chilli pepper. O Sudeste Asiático e o sul da Ásia produzem
e exportam hoje vários tipos de chilli peppers - lá no meu supermercado, por
exemplo, a tailandesa é a mais
comum.
Da Índia vem hoje a
pimenta tida como a mais ardida do mundo. Aliás, o prato mais ardido que comi
na minha vida foi justamente num restaurante indiano aqui em Londres. Fiz a
besteira de pedir um prato descrito no cardápio como very hot, e veio um curry
que, mesmo sendo macho pacas, eu não consegui encarar até o fim.
Da Ásia, via
Oriente Médio, a pimenta se espalhou para a Turquia e a Hungria, que
desenvolveram variantes de pimenta em flocos ou em pó (mencionadas no post
sobre o cilbir).
Na minha opinião, a
pimenta turca em flocos, também conhecida como aleppo, de ardor moderado (há
uma escala para isso, sabiam? A escala Scoville), vai conquistar o mundo. Ela
já faz sucesso no Mediterrâneo e no Oriente Médio, e seu uso vem crescendo nos
Estados Unidos. Ela é versátil, eu substituo pimenta-do-reino pela aleppo em
vários pratos – até na pizza.
Mas voltando à
trajetória da pimenta, queria apontar para a teoria que diz que ela chegou à
Índia trazida pelos navegadores portugueses – os mesmos que a trouxeram ao
Brasil.
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